quarta-feira, 28 de novembro de 2012

3ª Saída Poetas Ambulantes


Importante: as palavras abaixo não pretendem, tão pouco, conseguirão descrever com exatidão os momentos de felicidade vividos entre pessoas desconhecidas através da poesia...

Ontem aconteceu a 3ª Saída do coletivo Poetas Ambulantes, fomos do bairro do Valo Velho, extremo sul de São Paulo, até o metrô Anhangabaú, centro da cidade, com destino ao Sarau Suburbano Convicto, que acontece todas as terças-feiras na rua Treze de Maio, nº70.

Estávamos em um grupo de cinco poetas (Carolina Peixoto, Jefferson Santana, Lu’z Ribeiro, Mariane Staphanato e Thiago Peixoto) e uma fotografa, a Renata Armelin (que amamos), que gentilmente nos acompanhou pela segunda vez em uma saída para registrar cada momento vivido nos coletivos da cidade.

O trajeto começou as 16h, (pouco depois da chuva torrencial negociar sua estiagem com o sol escaldante que viria em seguida), pegamos o primeiro ônibus em frente ao Extra do Valo Velho, e então começou a festa – “motorista, podemos entrar pela porta de trás pra distribuir e recitar poesia?” – eis que a porta se abre, os poetas sobem e o sarau começa, simples assim.

Foi um privilégio (infelizmente para poucos) assistir aos rostos se transformando, da cara fechada que estranha a chegada de passageiros clandestinos pela porta de trás, ao sorriso largo, quando percebiam que estávamos lá simplesmente para colorir o fim de tarde com poesia, alegrar e amaciar um pouco o coração dos que ali estavam endurecidos pelo ritmo frenético que a cidade impõem aos seus moradores.

Fizemos nosso trajeto pelos ônibus que circulam na Estrada de Itapecerica até o metrô Capão Redondo, em seguida pegamos o metrô da linha lilás, até o Terminal João Dias, onde pegamos os ônibus que faziam o itinerário da Av. João dias, Av. Vereador José Dinis e Av. Ibirapuera. Fomos até o metrô Santa Cruz, lá pegamos a linha azul rumo à estação Sé onde fizemos baldeação para chegarmos ao Anhangabaú.

No total, distribuímos mais de 300 poesias (com informações no verso sobre alguns dos Saraus que acontecem atualmente na cidade), escritas por frequentadores desses saraus, que mesmo não podendo estar lá dentro dos coletivos, acreditam no projeto e, indiretamente, estavam conosco e fizeram acontecer. Nossa gratidão a todos que escreveram as poesias!

É difícil contabilizar quantas pessoas foram impactadas, passamos no total por nove ônibus, uma lotação e seis vagões de metrô, alguns lotados outros nem tanto, fora as pessoas que se deparavam conosco recitando poesias nos pontos de ônibus, estações, escadas rolantes, enfim, no trajeto inteiro a proposta era atingir o maior número de pessoas possível e foi o que fizemos.

O resultado superou nossa expectativa, as pessoas realmente se emocionaram com as poesias e, em alguns coletivos, praticamente todos os passageiros batiam palmas e nos parabenizavam. Quem estava do lado de fora ficava sem entender, e caia na gargalhada junto. Na estação Sé, uma pessoa desceu conosco, nos parabenizou e falou, “minha estação já passou, só desci agora porque fiquei entretida com vocês e não me atentei à hora de descer”, foi realmente lindo (confesso que adoraria fazer a experiência de permanecer dentro do ônibus depois que os poetas descem, pra ver como as pessoas se comportariam no resto de sua viagem pra casa).

Para finalizar, precisamos agradecer ao Sarau Suburbano Convicto, que recebeu nosso coletivo de braços abertos, com o carinho e respeito de sempre, e nos cedeu a palavra para falar sobre a nossa iniciativa e a experiência que tínhamos acabado de viver.

Infelizmente a felicidade não se traduz em palavras, então vou parar por aqui e deixar o convite para que vocês vivam essa experiência conosco. Fiquem ligados aqui no blog e em nossas redes, em breve divulgaremos as fotos dessa saída e informações sobre próxima, em dezembro.

Como disse Paulo Leminski, “A vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem”.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Urgência coletiva

Com toda educação
A poesia pede autorização
para entrar por traz no busão
Rouba atenção e aplausos
Em troca de alguns causos
Declamados à multidão.

Arranca diversos sorrisos
Tímidos, escancarados
Acorda olhares perdidos
Distrai os ali distraídos
Beija os corações cansados.

Sua voz é ouvida
Mesmo só de passagem
Quem está na lida
Se depara com a vida
E entende a mensagem.

Motoristas, cobradores
Crianças, adultos
Trabalhadores, artistas astutos,
poetas consagrados,
Contemporâneos, marginalizados,
Todos dividindo espaço
Dentro da minhoca de aço.

A poesa ganha vida
E não passa despercebida
Quem pode, registra
Quem não, também
Seja no celular, só no olhar
Ou na energia que move o trem.

São Paulo nos estressa
A pressa é desenfreada
O ônibus está lotado
Mas ninguém olha pro lado
E mantém a cara fechada.

Não importa se no Tucuruvi
Ou no Guarapiranga
No Grajau ou Guilhermina-esperança
Quem enfrenta sabe que cansa
Se sentar o sono bate de pronto
Se moscar, todos perdem o ponto.

O mundo é o coletivo
O coletivo é um mundo
Uns indo trabalhar
Outros voltando pra descansar
Friamente profundos.

Desconhecidos ouvidos atentos
Nas palavras lançadas ao vento
Grandes potenciais amigos,
Que levarão a mim consigo.

Viver de instantes
Como poetas ambulantes
É nossa recompensa
A poesia é uma urgência
Por isso estou declamando
Pois vocês sabem
Eu podia ta matando,
eu podia ta roubando...